RATZINGER, O REACIONÁRIO! - PARA A CRÍTICA DO PENSAMENTO QUE AMEAÇA NOSSAS LIBERDADES
- Alipio DeSousa
- 27 de mar. de 2007
- 3 min de leitura
Alípio de Sousa Filho – Cientista Social
Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN

A prosseguir com suas posições, ultrapassadas pela história, a Igreja Católica se encaminhará rapidamente para o seu fim. Outras igrejas seguem o mesmo destino, mas a Igreja Católica avança a passos largos em sua decadência, suscitando ainda o riso, a zombaria. O que mais que o riso pode provocar a oposição ao segundo casamento de pessoas já divorciadas, considerado como uma “verdadeira chaga”? O cardeal Ratzinger possui as qualidades para ser o Papa da vez: ele consegue exprimir, como nenhum outro, as lamúrias de sua igreja, ao ver o mundo mudar e as pessoas se liberarem, cada vez mais, de dogmas retrógrados, de crenças sem fundamentos e de visões da vida que impedem o prazer, a alegria, a felicidade. Bento XVI é o coroamente da decadência da Igreja Católica. Decadência construída numa longa história de resistência às transformações sociais.
No Sacramentum Caritatis – obra digna do medievo europeu –, o Papa afirma que todos os “fiéis” devem defender o que ele chama de valores fundamentais, cabendo aos políticos uma missão especial. Esses valores incluiriam o que ele entende ser o respeito pela vida humana (da concepção e nascimento à morte natural), a família constituída sobre o casamento entre um homem e uma mulher e a condenação do divórcio. O documento classifica o segundo casamento como uma chaga contemporânea, condena o casamento homossexual, as leis em prol do aborto e da eutanásia. Todas essas questões tratadas como não negociáveis. Considerando inegociáveis suas posições retrógradas a propósito das conquistas emancipatórias de homens, mulheres, gays, dos avanços científicos, etc., o documento convoca políticos e legisladores católicos a proporem leis baseadas na “natureza humana” – é Ratzinger adepto de um universalismo obscurantista, contrário à diversidade humana e cultural... Ele já expressou seu horror ao relativismo! O documento papal ataca também a Internet e a televisão, por suposta “influência destrutiva” sobre os jovens.
Os católicos não levam a sério os apelos de sua Igreja, vivem suas vidas livremente, como todos os demais. Só poucos, os idiotas!, deixam de viver para seguir morais que oprimem. Em todas as épocas, existiu um bom senso liberador que ensina que a moral veio depois da vida (como disse Nietzsche), criando-se a desconfiança de toda moral que pretende ser exclusiva e que visa estabelecer a vida em via única. As condenações do uso da camisinha, da pílula anticoncepcional, da masturbação, da homossexualidade e agora até mesmo de um segundo casamento ninguém leva a sério. Quantos católicos existem que seguem tais orientações? Esse novo-velho documento do cardeal Ratzinger é uma reação às mudanças e às conquistas emancipatórias em vários países: legalização do casamento homossexual, reconhecimento legal dos casais em união estável, emancipação das mulheres, aborto, eutanásia, clonagem, pesquisas com células-tronco, etc.
As religiões certamente prosseguirão ainda por muito tempo ou talvez nem mesmo desapareçam da vida humana. Elas respondem a razões bem mais profundas, mas não menos humanas por isso, e o fato nada tem de manifestação de “mistério” ou do “divino”. A antropologia e a sociologia já deram mostras que o pensamento religioso constitui um fenômeno de natureza social. As diversas igrejas apenas desse fenômeno se apropriam, procurando submeter segmentos da população a idéias, convenções morais, construções sociais que são puro invento da mente de seus dirigentes, humanos, demasiadamente humanos, escondidos na idéia do divino, do sagrado.
Publicado no Diário de Natal, Cadernos Cidades (Ponto-Contra-Ponto), p. 3, edição de 25/03/07
Comments